27 de maio de 2013

Sessão de autógrafos

Estava eu na melhor livraria da cidade, só olhando para centenas de livros que eu jamais iria comprar pois não tinha dinheiro algum. Apesar da minha falta de grana, do cabelo desgrenhado e do gosto por livros, eu consegui a proeza de estar acompanhado por uma namorada nesse dia.

Já estávamos de saída da livraria, quando avistei uma sessão de autógrafos ocorrendo no segundo andar. Não era uma sessão de autógrafos qualquer, era uma sessão de autógrafos com distribuição de taças de vinho. Perguntei pra ela:

- Tu quer tomar um vinho?


Decerto pensou que eu a surpreenderia com um galante convite para um jantar romântico em um restaurante chique, e respondeu:

- Claro!

- Então vem comigo, disse eu.

Fui até o caixa e pedi o livro que estava sendo autografado. Era Desculpem, sou novo aqui, de Carlos Moraes. Subimos até o segundo andar e ficamos por ali zanzando com o livro na mão. Não havia propriamente uma fila, apenas pessoas espalhadas e algumas em volta da mesa do escritor. Logo o garçom apareceu e tomamos a primeira taça. Depois a segunda. E uma terceira, que ele forneceu muito a contragosto, ao reconhecer os ratos de sessão de autógrafos. Ela me disse:

- Tá, já deu, vamos embora. Daqui a pouco vão começar a nos olhar.

Eu, querendo aproveitar mais da situação, disse:

- Só mais uma taça.

Nisso, aparece um senhor ao nosso lado e pergunta:

- Já pegaram o autógrafo com o autor?
- Não, respondi.
- Então venham cá, vou apresentar vocês, disse ele.

Carlos Moraes nos recebeu entusiasmado.
- Nossa, só tem amigos meus aqui. É bom ver que também há leitores interessados. E leitores jovens, o que é melhor!
- Pois é, disse eu já prevendo onde aquilo iria terminar.
- Como é que ficaram sabendo do livro,  dos autógrafos?
- Ahnn, eu vi no jornal hoje, menti eu.

E ele começou a falar sobre o livro dele, que era ex-padre, que tinha escrito suas memórias misturando com ficção (toda memória é ficção, pensei eu), e começou a contar um pouco do livro . Enquanto isso, minha namorada me lançava olhares nervosos, do tipo "O que tu pensa que está fazendo?". Lá pelas tantas o escritor se interrompeu, como se lembrasse de algo importante, e disse:

- Vocês ainda não pegaram o autógrafo!
- Pois é, disse eu sorrindo.
- Qual o nome de vocês?
Claudius, que inspirou meu pseudônimo

Dando continuidade à farsa, menti de novo com o primeiro nome que me veio à cabeça:
- Cláudio.
- E você?, perguntou ele pra ela, que entrou no jogo rapidamente, também dando outro nome:
- Marisa.
Ele começou a escrever a nossa dedicatória, e parou de novo:
- Marisa com S ou com Z?, seguiu-se um momento de hesitação, até que ela:
- Com S!, e me olhou já furiosa.
- Vou deixar também o meu email com vocês, e por favor me escrevam pra dizer o que acharam, é sempre bom ter um retorno dos leitores, disse Carlos.
- Claro!, falei.

Carlos Moraes nos entregou o livro e na hora apareceu outra pessoa para falar com ele e aproveitamos para nos despedir. Descemos e li a dedicatória:

"Um grande abraço para os simpáticos leitores Cláudio e Marisa
 do Carlos Moraes".

Perambulei com o livro até uma estante qualquer e o enfiei entre outros. Nos retiramos da livraria em silêncio.

Naquela mesma noite, ainda fomos expulsos, por minha culpa, é claro, da inauguração de uma loja de aromacolorterapia, mas isso é uma outra história...

Um comentário:

  1. Caludius, comprei este livro. Estando em situação de pedir desculpas por ser nova lá, sonhei com o fato de o livro ter sido indicado para mim e, mais, dedicado a mim. Um abraço. Mariza.

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