3 de abril de 2017

Decadência sem elegância

Não sou adepto de saudosismo. Longe de mim me tornar aquele tiozinho que idealiza o passado e que, pelo autoengano, acaba acreditando que antigamente tudo era melhor, que “só se fazia música boa nos anos 80” (ou 70 ou 90, dependendo da sua idade). Apontar a decadência dos tempos é um esporte que todas as gerações praticam; e obviamente a suposta decadência começa quando você sai da infância/adolescência. Mas às vezes é difícil ignorar que, em certos aspectos, o declínio de qualidade é inegável. A comparação das listas dos livros mais vendidos de 1985, 2005 e 2015 é de entristecer qualquer fã de literatura. Se duvida, olha a lista abaixo.

Lista mais vendidos 1985

1- A insustentável leveza do ser, Milan Kundera
2- O amante, Marguerite Duras
3- Se houver amanhã, Sidney Sheldon
4- Amar se aprende amando, Carlos Drummond de Andrade
5- A ponte para o sempre, Richard Bach
6- O fogo interior, Carlos Castañeda
7- O Siciliano, Mario Puzo
8- O beijo não vem da boca, Ignácio de Loyola Brandão
9- A faca de dois gumes, Fernando Sabino
10- Concerto carioca, Antonio Callado








2005
1- Memória de minhas putas tristes, Gabriel Garcia Márquez
2- O Código Da Vinci, Dan Brown
3- Fortaleza digital, Dan Brown
4- Anjos e Demônios, Dan Brown
5- Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, Jô Soares
6- O Zahir, Paulo Coelho
7- As cinco pessoas que você encontra no céu, Mitch Albom
8- O Guia do Mochileiro das Galáxias, Douglas Adams
9- Quando Nietzsche chorou, Irvin D. Yalom
10- O enigma do quatro, Ian Caldwell


Agora reparem que, em 2015, um autor nem precisa mais saber escrever para figurar entre os mais vendidos.
2015:
1- Jardim Secreto, Johanna Basford (livro de colorir)
2- Floresta encantada, Johanna Basford (livro de colorir)
3- Philia, Padre Marcelo (padre católico)
4- Nada a perder 3, Edir Macedo (pastor evangélico)
5- Muito mais que 5inco minutos, Kéfera Buchmann (vlogueira)
6- Ansiedade – como enfrentar o mal do século, Augusto Cury (idiota de autoajuda)
7- Grey, E.L. James
8- O Pequeno Príncipe, Antoine Saint-Exupéry
9- Eu fico loko, Christian Figueiredo de Caldas (vlogueiro)
10- Não se apega, não, Isabela Freitas


Não sabe quem é Isabela Freitas?
 Nem eu. Mas, para ter uma ideia, veja só a sinopse da sua obra Não se apega, não:
Tudo começa com um ponto-final: a decisão de terminar o namoro de dois anos com Gustavo, o namorado dos sonhos de toda garota. As amigas acharam que Isabela tinha enlouquecido, porque, afinal de contas, eles formavam um casal PER-FEI-TO! Mas por trás das aparências existia uma menina infeliz, disposta a assumir as consequências pela decisão de ficar sozinha. Estava na hora de resgatar o amor-próprio, a autoconfiança e entrar em contato com seus próprios desejos. Parece fácil, mas atrapalhada do jeito que é, Isabela precisa primeiro lidar com o assédio de um primo gostosão, com as tentações da balada e, principalmente, entender que o príncipe encantado é artigo em falta no mercado.

Depois do sucesso, ela ainda lançou o Não se iluda, não. Já meu conselho seria “Não publique, não”.



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