9 de fevereiro de 2017

Entrevista com Diego Lops

Com o anonimato que ganhei com o insucesso do meu livro Pessoas partidas, já não posso mais sair na rua sem que os paparazzi me ignorem completamente. Dada a retumbante falta de notícias sobre meu livro na mídia e com o silêncio eloquente da crítica, resolvi me autoentrevistar, para suprir essa lacuna com informações não solicitadas.

Entrevistador: A literatura no RS já teve um boom no início dos anos 2000, quando lançou nomes como Daniel Galera, Pellizzari e Paulo Scott. Depois ainda teve fôlego para outra geração estourar dez anos depois, com Carol Bensimon, Diego Grando e outros. O senhor é mais velho que todos eles e mesmo assim continua patinando nessa estrada, tendo perdido o trem geracional pelo menos duas vezes. A pergunta é: onde você se coloca no panorama da literatura gaúcha?
Diego Lops: Num pedestal.

E: Muitos escritores hoje em dia se valem das redes sociais para divulgar novos trabalhos e manter um canal de comunicação dinâmico com o seu público, mas muitas pessoas acusam o senhor de usar os seus perfis no Facebook e Twitter apenas para exaltar seu infinito egocentrismo, e dizem ainda que a maioria dos seus posts está apenas a serviço de seu narcisismo exacerbado. O que tem a dizer sobre isso?
DL: Nada poderia estar mais longe da mentira.

E: Ano passado o senhor recebeu o Prêmio Ufes de Literatura, pelo seu livro Pessoas partidas. O senhor tem ciência de que prêmios não significam nada em termos de qualidade literária?
DL: Sim.

E: Dizem que um livro é 10% inspiração e 90% transpiração. Essas porcentagens se aplicam ao seu processo criativo?
DL: Não. Isso é uma balela. É um mito que outros escritores inventaram e, com competência, perpetuaram para que o povo acreditasse que escrever é algo trabalhoso. Um pacto para que eles sejam levados a sério. Todos os 21 contos do meu livro Pessoas partidas foram escritos em uma sentada, em genuínos arroubos de criatividade, sem derramar uma gota de suor.

E: Como se dá seu processo de escrita?
DL: Para que eu escreva algo que preste, é preciso uma conjuminação de vários elementos. Por exemplo: um eclipse solar total, o nascimento de gêmeos albinos em uma tribo caingangue e muito, muito vinho em casa.

E: Que tipo de leitura ativa sua vontade de escrever?
DL: Bulas de antidepressivos e catálogos de lingerie da Avon.

E: Quais são os ingredientes básicos de uma história?
DL: Palavras, frases e ótima pontuação.

E: Os conflitos internos são uma força criadora?
DL: Se meus conflitos internos realmente fossem uma força criadora, já teria escrito uma “Odisseia”, um “Dom Quixote” e um “Ulisses”.

E: Como é sua relação com os críticos?
DL: Eu tenho uma relação muito próxima com meus críticos. O último que me criticou, por exemplo, está enterrado lá no porão de casa.

E: Você compartilha os rascunhos de suas escrituras com alguém de confiança para ter sua opinião?
DL: Compartilhava os textos com meu alter ego, mas parei depois que o canalha começou a me plagiar.


E: Você acredita já ter encontrado "sua voz" como escritor?
DL: Eu ouço vozes várias vezes ao dia. Minha psiquiatra já mandou aumentar a dosagem da medicação.

E: Escritores são conhecidos pela autodisciplina. O senhor se impõe metas de quantidade de palavras? Estabelece horários fixos? Qual seu método de trabalho?
DL: Sou muito organizado, procuro sempre viver minha vida em ordem cronológica. Tenho uma disciplina espartana e respeito muito os horários. Eu acordo cedo, pouco antes das três da tarde, e fico esperando a inspiração baixar em mim. Normalmente só baixam a ressaca, a dor de cabeça, a fome, o cansaço e, finalmente, o sono, então volto a dormir.

E: Você escreve na tela, imprime com frequência, corrige em papel...? Como escreve?
DL: Eu faço os rascunhos no computador, depois passo a limpo a caneta no caderno, e, finalmente, faço a versão final a lápis, em guardanapos de bar.

E: Em que projeto você está trabalhando agora?
DL: Estou trabalhando em um microconto que vai entrar para o Livro Guinness dos Recordes como o mais longo microconto do Mundo. Já estou na terceira página.

E: Se o senhor pudesse ter um superpoder, qual seria?
DL: O poder da visibilidade.


E: A sua obra com frequência apresenta elementos dispostos adrede com motivações internas partindo de uma sintaxe própria que dialogam en passant com Hegel e a Escola de Frankfurt, gerando uma similitude que carece de suscetibilidade em si, com a vantagem de não ser prolixa.
DL: Cuma?

Qual a palavra mais bonita da língua portuguesa?
DL: Seborreia.

E: Que música não sai de sua cabeça?
DL: A do caminhão de gás.

E: Um gosto inusitado.
DL: Azedo.

E: Em que situação você perde a elegância?
DL: Não posso perder o que nunca tive.

E: O que você estará fazendo daqui a dez anos?
DL: 50 anos.

E: Música inesquecível:
DL: “Ovo podre tá fedendo”.

E: Livro de cabeceira.
DL: Pessoas partidas.

E: Uma comida.

DL: Sucrilhos.

E: Bebida.
DL: Sim, obrigado.

E: Quem você levaria para uma ilha deserta?
DL: Donald Trump. E o deixaria por lá.

E: Grau de instrução.
DL: Tive minha educação básica assistindo filmes do Charles Bronson.

E: Maior frustração.
DL: Ter nascido.

E: O que sabe agora que gostaria de ter sabido antes?
DL: Que comer uma lata inteira de balas Flópi Diet causa desarranjo intestinal.

E: Filosofia de vida.
DL: Não adie para amanhã o que pode deixar de fazer hoje.

E: Um recado para a juventude.
DL: Só vai piorar.

E: Invenção do século.
DL: Coçador de costas, daqueles com mãozinha.

E: Qual seu maior medo?
DL: Tenho medo de engolir um palito de dentes, vestido de lenhador, preso em um elevador lotado, enquanto um dançarino de tango canta “Parabéns a você” para mim.

E: Já cometeu algum crime?
DL: Autoplágio.

E: Em que tipo de ocasião você mente?
DL: Sempre que posso.

E: Qual figura histórica o senhor admira?
DL: Chico Bento.

E: Seu herói de ficção favorito?
DL: Sylvester Stallone.

E: Muito obrigado pela entrevista.
DL: Obrigado você.

E: Não, obrigado você.
DL: Não, obrigado você.

E: Não, obrigado você.
DL: Não, obrigado você!

E: Não, obrigado você!
DL: Não, obrigado você!






E: Não, obrigado você!
DL: Tá, chega, perdeu a graça já!







Nenhum comentário:

Postar um comentário

Colaboradores