Com o anonimato que ganhei com o
insucesso do meu livro Pessoas partidas, já não posso mais sair na rua sem que
os paparazzi me ignorem completamente. Dada a retumbante falta de notícias
sobre meu livro na mídia e com o silêncio eloquente da crítica, resolvi me
autoentrevistar, para suprir essa lacuna com informações não solicitadas.
Entrevistador: A literatura no RS já teve um boom no início dos anos 2000, quando
lançou nomes como Daniel Galera, Pellizzari e Paulo Scott. Depois ainda teve
fôlego para outra geração estourar dez anos depois, com Carol Bensimon, Diego
Grando e outros. O senhor é mais velho que todos eles e mesmo assim continua
patinando nessa estrada, tendo perdido o trem geracional pelo menos duas vezes.
A pergunta é: onde você se coloca no panorama da literatura gaúcha?
Diego Lops: Num
pedestal.
E:
Muitos escritores hoje em dia se valem das redes sociais para divulgar novos
trabalhos e manter um canal de comunicação dinâmico com o seu público, mas
muitas pessoas acusam o senhor de
usar os seus perfis no Facebook e Twitter apenas para exaltar seu infinito
egocentrismo, e dizem ainda que a maioria dos seus posts está apenas a serviço
de seu narcisismo exacerbado. O que tem a dizer sobre isso?
DL: Nada poderia estar mais longe da mentira.
E: Ano passado o senhor recebeu o Prêmio Ufes
de Literatura, pelo seu livro Pessoas
partidas. O senhor tem ciência de que prêmios não significam nada em termos
de qualidade literária?
DL: Sim.
E: Dizem que um livro é 10% inspiração e 90%
transpiração. Essas porcentagens se aplicam ao seu processo criativo?
DL: Não. Isso é uma balela. É um mito
que outros escritores inventaram e, com competência, perpetuaram para que o
povo acreditasse que escrever é algo trabalhoso. Um pacto para que eles sejam
levados a sério. Todos os 21 contos do meu livro Pessoas partidas foram escritos
em uma sentada, em genuínos arroubos de criatividade, sem derramar uma gota de
suor.
E: Como se dá seu
processo de escrita?
DL: Para que eu escreva algo que
preste, é preciso uma conjuminação de vários elementos. Por exemplo: um eclipse
solar total, o nascimento de gêmeos albinos em uma tribo caingangue e muito,
muito vinho em casa.
E: Que tipo de
leitura ativa sua vontade de escrever?
DL: Bulas de antidepressivos e
catálogos de lingerie da Avon.
E: Quais são os
ingredientes básicos de uma história?
DL: Palavras, frases e ótima
pontuação.
E: Os conflitos
internos são uma força criadora?
DL: Se meus conflitos internos
realmente fossem uma força criadora, já teria escrito uma “Odisseia”, um “Dom
Quixote” e um “Ulisses”.
E: Como é sua relação com os críticos?
DL: Eu tenho uma relação muito próxima
com meus críticos. O último que me criticou, por exemplo, está enterrado lá no
porão de casa.
E: Você
compartilha os rascunhos de suas escrituras com alguém de confiança para ter
sua opinião?
DL: Compartilhava os textos com meu alter
ego, mas parei depois que o canalha começou a me plagiar.
E: Você acredita já ter encontrado "sua voz"
como escritor?
DL: Eu ouço vozes várias vezes ao dia. Minha
psiquiatra já mandou aumentar a dosagem da medicação.
E: Escritores são conhecidos pela autodisciplina.
O senhor se impõe metas de quantidade de palavras? Estabelece horários fixos?
Qual seu método de trabalho?
DL: Sou muito organizado, procuro
sempre viver minha vida em ordem cronológica. Tenho uma disciplina espartana e respeito muito os
horários. Eu acordo cedo, pouco antes das três da tarde, e fico esperando a
inspiração baixar em mim. Normalmente só baixam a ressaca, a dor de cabeça, a
fome, o cansaço e, finalmente, o sono, então volto a dormir.
E: Você escreve
na tela, imprime com frequência, corrige em papel...? Como escreve?
DL: Eu faço os rascunhos no computador, depois passo a limpo a caneta no caderno, e, finalmente, faço a versão final a lápis, em guardanapos de bar.
DL: Eu faço os rascunhos no computador, depois passo a limpo a caneta no caderno, e, finalmente, faço a versão final a lápis, em guardanapos de bar.
E: Em que projeto
você está trabalhando agora?
DL: Estou trabalhando em um microconto
que vai entrar para o Livro Guinness dos Recordes como o mais longo microconto
do Mundo. Já estou na terceira página.
E: Se o senhor pudesse ter um superpoder, qual
seria?
DL: O poder da visibilidade.
E: A sua obra com frequência apresenta
elementos dispostos adrede com motivações internas partindo de uma sintaxe
própria que dialogam en passant com Hegel e a Escola de Frankfurt, gerando uma
similitude que carece de suscetibilidade em si, com a vantagem de não ser
prolixa.
DL: Cuma?
Qual a palavra mais bonita da língua
portuguesa?
DL: Seborreia.
E: Que música não sai de sua cabeça?
DL: A do caminhão de gás.
E: Um gosto inusitado.
DL: Azedo.
E: Em que situação você perde a elegância?
DL: Não posso perder o que nunca tive.
E: O que você estará fazendo daqui a dez anos?
DL: 50 anos.
E: Música inesquecível:
DL: “Ovo podre tá fedendo”.
E: Livro de cabeceira.
DL: Pessoas partidas.
E: Uma comida.
DL: Sucrilhos.
E: Bebida.
DL: Sim, obrigado.
E: Quem você levaria para uma ilha deserta?
DL: Donald Trump. E o deixaria por lá.
E: Grau de instrução.
DL: Tive minha educação básica
assistindo filmes do Charles Bronson.
E: Maior frustração.
DL: Ter nascido.
E: O que sabe agora que gostaria de ter sabido
antes?
DL: Que comer uma lata inteira de
balas Flópi Diet causa desarranjo intestinal.
E: Filosofia de vida.
DL: Não adie para amanhã o que pode
deixar de fazer hoje.
E: Um recado para a juventude.
DL: Só vai piorar.
E: Invenção do século.
DL: Coçador de costas, daqueles com
mãozinha.
E: Qual seu maior medo?
DL: Tenho medo de engolir um palito de
dentes, vestido de lenhador, preso em um elevador lotado, enquanto um dançarino
de tango canta “Parabéns a você” para mim.
E: Já cometeu algum crime?
DL: Autoplágio.
E: Em que tipo de ocasião você mente?
DL: Sempre que posso.
E: Qual figura histórica o senhor admira?
DL: Chico Bento.
E: Seu herói de ficção favorito?
DL: Sylvester Stallone.
E: Muito obrigado pela entrevista.
DL: Obrigado você.
E: Não, obrigado você.
DL: Não, obrigado você.
E: Não, obrigado você.
DL: Não, obrigado você!
E: Não, obrigado você!
DL: Não, obrigado você!
E: Não, obrigado você!
DL: Tá, chega, perdeu a graça já!
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