16 de fevereiro de 2012

O Maior Problema do Mundo

Nesta última semana, por razões diversas, acompanhei a repercussão internética das mais variadas matérias publicadas em jornais, sites e blogs por aí. Afora a já manjadíssima figura do corajoso de internet e outros tipos imbecis, me deparei com uma frequência bem maior que a desejada com um outro tipinho escroto. É aquele sujeito que, quando toma conhecimento de um assunto que lhe incomoda, quer vencer o debate com seu argumento único: "vocês não têm nada mais importante com que se preocupar?"  Existem variações, como "não tem mais o que fazer mesmo", "vai pegar numa vassoura" (este era um conselho pra lésbicas), ou ainda o muito politizado "como se não estivesse acontecendo nada em Brasília!".

Mas, como sempre, estou tergiversando e não chegando ao ponto. A minha bronca (e meu desprezo) vai para aquelas pessoas que, ao se depararem com alguma manifestação que pede por mudanças, logo tentam desvalorizar o assunto discutido, como se não fosse digno de atenção, justamente por haver "problemas maiores" no Brasil.

Defendo que o relativista é um covarde intelectual, mas o sujeito que descrevi acima é diferente, é simplesmente um babaca, pois realmente acredita na força do seu pseudoargumento.

Funciona assim: quando se discute proteção a animais, logo lembram das crianças passando fome. Quando se fala em tirar crucifixos dos tribunais, imediatamente falam da corrupção em Brasília. Quando se debate trocar nomes de ruas e avenidas que homenageiam militares torturadores, não deixam a gente esquecer que a situação da saúde pública é "caótica". Enfim, quando se deparam com qualquer coisa que põe em risco a sua zona de conforto, não demoram em partir  para aquela velha falácia grosseira e infantil de que uma coisa sem qualquer relação com a outra (e.g.tirar crucifixos dos tribunais\demora da justiça) vai de alguma forma limitar suas possibilidades, e apelam para o seu superior "há coisas mais importantes". Da alto da sua imbecilidade, se convencem, e tentam convencer os outros, que discutir uma coisa invalida melhorias em outras áreas. E na verdade é o contrário: quanto mais se foge das discussões sobre qualquer assunto e quanto mais ignoramos o mundo a nossa volta, menores e mais incapazes ficamos.
Mas no fim das contas sabemos que esse sujeito não apenas evita debater qualquer assunto com o mínimo de seriedade como também não move uma palha para corrigir aquilo que aponta como errado.

Mas, afinal, qual seria a coisa mais importante? A saúde pública? Não, é a segurança. Que segurança que nada, é a educação, raiz de tudo. Educação? Só depois que não houver mais nenhuma criança passando fome! Mas pra isso tem que distribuir melhor a renda. Mas só haverá melhor distribuição de renda quando acabarem com a corrupção. Mas só vai acabar a corrupção quando aprenderem a votar. Mas só vão aprender a votar quando houver educação para todos. Mas de que adianta estar na escola e passando fome?, tem que dar comida pro povo! Vixe, esqueci da poluição e aquecimento global, e racismo.

?

Sei que essa minha momentânea irritação é um provável sinal de que talvez tenha passado tempo demais na internet esta semana e sei que não deveria dar a mínima atenção para esse tipo de retardado mental. O problema é que, pelo que tenho observado, esse tipo de "pensamento" já se tornou o padrão de comportamento da maioria das pessoas. E, você sabe, as maiorias estão sempre erradas.

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