11 de dezembro de 2009

Capital das Monstruosidades - Epílogo

Há algum tempo comentei o artigo do Voltaire Schilling sobre a arte contemporânea nas ruas da capital gaúcha. Num ataque de fúria jamais visto em um historiador idoso, ele clamou pela retirada das obras "feias" da cidade.

Na imprensa e em blogues, seguiram-se acalorados debates sobre o tema, com a maior parte da população apoiando o autor do inflamado artigo. Muitas pessoas o defenderam, e abusaram da "falácia da autoridade" em debates, pois Schilling seria "uma autoridade incontestável" no assunto.

Mas eis que dois rapazes, os jornalistas Eduardo Veras e Luiz Antônio Araújo, conseguiram uma entrevista com o historiador. Com fina ironia e muito tato, fizeram uma entrevista brilhante. Sem ataques diretos, simplesmente deram a corda para que Voltaire Schilling se enforcasse espontaneamente. Em certo momento, sem se dar conta, chega a equiparar as acusações de nazista e burro com "homossexual" e dá mostras visíveis de senilidade.


Bom, a entrevista é longa (ocupou duas páginas no jornal) e está aqui. Quem tiver tempo e interesse, pode deixar para ler no final de semana. Melhor que Frost/Nixon.

11 comentários:

  1. pura maldade dos jornalistas ficarem revirando a bosta

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  2. Aqui é a anonima de sempre, nao sei quem é o "intruso" acima. :)

    Embora nao concorde com certas coisas pontuais do Voltaire, tenho que confessar que concordo no geral com o que ele disse na entrevista. A maioria das pessoas nao fica mobilizada e nao se identifica com a arte atual, e nem ao menos pode confessar isso "oficialmente" sem ser acusada de ignorante. Como ele mesmo disse, em outras areas (lembro politica, literatura, cinema), as pessoas se sentem livres pra falar o que pensam sem uma critica apurada sobre isso, que nao é cobrada. A maioria das pessoas acha de mau-gosto muitas das obras de arte e monumentos - quem nao sabe disso? Mas porque a arte plastica tem essa "imunidade"?
    Tambem acho que ele coloca bem a questao da hipocrisia de alguns artistas que se pretendem denunciadores do status quo mas que entram no jogo de um mercado de arte totalmente ligado ao dinheiro e nao a arte.
    Mesmo que o discurso do Voltaire esteja pincelado com alguns equivocos e preconceitos - o que se deve mesmo repudiar -, acho que ele tem o merito de ter dito o que ele e tantos pensam, ainda que de maneira pouco trabalhada. Ele nao esta sozinho: tenho amigos intelectualizados e cultos que, assim como eu, nao suportam a Bienal nem a Feira do Livro, e nao é soh pelo atrolho de gente, e nao é soh pelo numero pouco expressivo de obras expressivas.
    Eh porque esses eventos deixaram de ser um espaco onde se pensa a arte e a literatura no momento em que viraram tradicao e monumentos elas mesmas da cidade. Onde nao se presta mais atencao ao que as pessoas dizem pelo que dizem, e sim por quem elas sao.

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  3. Um dos personagens mais complexos e intrigantes da literatura, a meu ver, é o Polonio, do Hamlet. Um cara de carater duvidoso que da os mais sabios e dignos conselhos ao filho que parte em viagem. O discurso dele nao pode ser invalidado por ter sido dito por ele. Pode se verificar a contradicao ou ate o cinismo. Mas quando se debate ideias as personalidades deviam contar menos do que o debate em si.

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  4. Oscar Wilde adimitia que o papel do artista era o de fazer coisas belas. Acrescentou que a arte era totalmente inútil. Se não houver o belo o que haverá? Inúteis sabemos que esses monumentos são, ou precisariamos redefinir o que é utilidade?

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  5. Anônima,
    Sabia que isso ia acabar acontecendo. Quando a gente bate em alguém com tanta virulência, como ando fazendo com esse tiozinho, em certo momento o povo termina por criar simpatia pelo criticado,, que fica num papel de vítima. Foi o que aconteceu no meu outro blogue, quando esculachei um senhor idoso. Uma amiga ficou com "peninha" do cara, apesar de ele ser um idiota. O Berlusconi acabou de sofrer um atentado na Itália. Eu nem vou me atrever a exaltar a coragem do rapaz que o atingiu pois não gostaria de ver as pessoas tendo simpatia pelo primeiro ministro.

    Como disse, acho que o Schilling se saiu bastante mal na entrevista (metade culpa dele, metade mérito dos jornalistas). Se enredou nas próprias palavras e argumentos rasos; se contradisse pelo menos 18 vezes (ATENÇÃO: isso foi um exagero retórico). Espera-se bem mais de alguém que tem o status dele.

    Não acho que as obras contemporâneas sejam incontestáveis ou indiscutíveis. Critico o discurso vazio que defende a maioria delas hoje (vide o Texto Justificador de Obras de Arte, em algum lugar deste blog).

    Pegaria alguns tópicos da entrevista para exemplificar o seu mau desempenho, mas minha capacidade argumentativa, admito, é bastante restrita. A minha preguiça, pelo contrário, não tem fim. Mas um dos pontos que achei pobres por parte do Schilling é recorrer diversas vezes ao argumento "mas a maioria está comigo", como se isso tivesse alguma relevância ou mérito intrínseco. A maioria estava com Hitler, a maioria estava com Bush, com Collor e a maioria gosta do Faustão.

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  6. Sobre o Polônio, comento depois de reler Hamlet.

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  7. Dizer que ta com preguica tambem nao é argumento, é covardia rs rs

    Em todo caso, concordo que ele se enredou nas proprias palavras.

    Mas discordo quando tu diz que acabaram tomando as dores dele. No que diz respeito a mim, nao se trata de simpatia pelo "oprimido", eu simplesmente acho que o debate que ele levantou teve mais merito do que a entrevista teve falhas. E repito, porque acho que nao fui clara: nao acho que se deva discutir a questao da personalidade de quem debate (a nao ser que seja Etica). E tu de novo tirou do assunto do debate de ideias pra colocar na questao pessoal:
    assim como o Voltaire dizer que a maioria esta com ele nao é argumento valido, tambem nao é argumento tentar invalidar o meu discurso dizendo que se deu por simples simpatia.

    Pra completar, informo que eu simpatizo muito mesmo com o Luis Augusto Fisher, mas naquele topico aqui que criticava o blog dele, me calei, por reconhecer que ele pisou feio na bola na questao da coerencia e argumentacao das ideias, e nem ao menos levantou uma questao importante de ser discutida.

    E tenhoo dito!

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  8. Para o Icaro (esse nome que faz viajar...)

    http://www.rubemalves.com.br/ainutilidadedainfancia.htm

    Amo esse texto!

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  9. Pois é, eu li aquele livro do Schopenhauer "A Arte de ter Razão" (há outras edições com o mesmo texto mas com outros títulos) em que ele explica e exemplifica vários tipos de falácias argumentativas para vencer um debate a qualquer custo. Confesso que muitas vezes as coloco em prática. Na maioria das vezes ninguém nota. Ataco sim a pessoa do Voltaire (falácia "ad hominem") por achar que ele se tornou o porta voz não de um um saudável questionamento cultural, mas sim de um movimento autoritário que beira o fascismo.
    A verdade é que tenho preguiça e covardia ao mesmo tempo.

    Mas que deu uma peninha do velhinho, isso deu né?

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  10. Admito, prezado(a) anônimo(a), com assombro, que não leio Rubem Alves. Mas se não encontro prazer, se não compreendo determinada arte, por que aceitá-la? Não é útil ao meu prazer.

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  11. Concordo contigo, Icaro! Acho que tu nao entendeu o que quis dizer... Eu concordo com o que tu falou sobre inutilidade no post anterior. O que eu estou defendendo, justamente, é que o Voltaire nao esta errado em dizer o que muitos pensam: que a arte atual (no geral)nao esta nos dando "prazer". Nao nos identificamos, nao nos emocionamos com ela.

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