Dirige madrugada adentro. Está esgotado. As costas lhe doem. Decide, finalmente, rumar para casa. Durante o trajeto silencioso não lhe ocorre mais nada. As dores lhe anestesiam o pensar. Ao chegar em casa percebe que tem fome. Na geladeira, sobras de almoço que não lhe apetecem. Come um pão sem recheio. Para ele agora todos os pães são iguais. Desde o dia em que tivera aquela experiência gastronômico-metafísica transcendental inigualável. Uma carrocinha simples, sem atrativos, sem fila e aparentemente limpa. Mas o que o levara até ali não foram esses sinais, mas o cheiro de molho quase palpável, que lhe provocara de imediato um estímulo salivar extremo; também o cheiro do pão fresco, crocante, macio e firme era delicioso. Com emoção e expectativa, pedira um cachorro-quente àquela senhora de olhos fundos. O vapor e a fumaça, com as luzes de neon ao fundo, envolviam o local em uma massa colorida piscante cujo ritmo o obnubilara. Observara atento o trabalho das mãos dela. Com movimentos suaves porém decididos, mecânicos mas graciosos, dava forma com maestria àquela obra de arte. Quando ela lhe alcançou o embrulho, suas mãos tremiam. Lágrimas acanhadas começavam a brotar. Ao rolarem, se misturaram ao suor do rosto. Era o melhor cachorro-quente de salsicha de soja que comera em sua vida e jamais provaria outro igual. Morreria com essa certeza.
18 de junho de 2008
Noite Perdida - Parte 3(FINAL)
(é preciso ler a parte 2 antes)
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Resta agora saber se a salsicha continha ovos ou derivados de leite ;)
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