Não é difícil tornar-se um intelectual hoje em dia. A cada dia mais pessoas se esforçam para entrar neste seleto grupo. Abaixo, elaboramos uma série de diretrizes para facilitar a vida do aspirante a intelectual pop que, se seguidas à risca, podem içá-lo à condição desejada dentro de poucos dias. Mas, como dizia o tio do homem aranha, esteja preparado: grandes conquistas vêm com grandes responsabilidades.
1- Odeie o lugar onde vive
O verdadeiro Intelectual Pop deve desprezar sua cidade. As pessoas de sua cidade são fechadas, obtusas e atrasadas. Palavras como província e celeiro são excelentes para caracterizar o lugar onde mora. Mas não esqueça: você pode até viajar de vez em quando, mas jamais mude de cidade!
2- Cite autores consagrados
Sempre que citar um autor consagrado, como Joyce, Proust ou Sartre, faça-o com desdém, como se estivesse tão além dele a ponto de tornar-se tedioso. Ah, Wim Wenders e David Lynch contam também.
3- Cite autores desconhecidos
Os autores desconhecidos merecem toda sua consideração e respeito. Um escritor esloveno, um tocador de xilofone da periferia de Helsinque, um videomaker prodígio de 12 anos da Namíbia, vale tudo: escritores, diretores de cinema, fotógrafos, etc.
4- Não seja bonito
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5- Fume
Claro, a última forma de rebeldia moderna é apertar um cigarro entre os lábios o tempo todo. Mas não se preocupe, não precisa tragar. Lucky Strike de gangrena é uma boa.
6- Arranje um desafeto.
Isso é realmente essencial. Mesmo que ele jamais tome conhecimento de sua existência, fale (mal) dele como se fosse seu íntimo. A dimensão do seu inimigo é que vai acabar lhe dando reputação.
7- Adote um ar blasé.
Treine na frente do espelho. Há várias categorias de ar blasé. Uma de boa aceitação é a cara
permanente de “ia espirrar mas segurei a tempo”. Sabe aquela cara que fazemos uns três segundos antes do espirro? Pois é, se quiser ser um Intelectual Pop efetivo vai precisar de uma. É algo entre a cara de sonso do Marlon Brando antes de ser gordo e a Marlene Dietrich antes de morrer, mas sem exageros, coisa sutil mesmo.
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8- Use uma gola rulê.
Claro, você já conseguiu os óculos de armação preta e o blazer retrô, mas não se esqueça da peça mais importante. O único inconveniente é usar gola rulê no verão, mas ainda assim vale a pena.
9- Toque um instrumento musical
Mas violão ou piano não valem, pois são muito comuns. O ideal é algo não ocidental, de nome exótico. Se for algo que ninguém mais toca, melhor ainda, pois evita comparações.
10- Tenha um animal de estimação
O importante aqui não é o bicho em si, mas a alcunha pela qual será designado. Pode ser um peixe, um gato, uma iguana, coloque o nome de um ícone intelectual supremo, como Lacan (bom nome para um gato siamês castrado), Hegel (peixe dourado), Chomsky (fica bem para um Mastim Napolitano), Foucault (ótimo para um jumento).
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Michel Foucault com gola rulê.
11- Ganhe um prêmio
Eu sei o que está pensando: “mas isso não depende só de mim”. Mas é bem mais fácil do que parece. Basta juntar seus amigos e criar prêmios com títulos esdrúxulos como melhor vídeo experimental feito por celular, “melhor trilha de curta de terror em 8mm, melhor mini-conto erótico, melhor hai-kai de ficção científica ou até mesmo intelectual do ano.
12- Aproxime-se da marginalidade.
Isso mesmo, se você tiver um amigo (ou pelo menos um conhecido) marginal isso conta pontos. E não é tão difícil quanto parece, basta encontrar um (habitam o Centro da cidade) e dar um dinheirinho ou pagar uma bebidinha regularmente que ele não vai mais largar do seu pé.
13- Escolha um nome esquisito para o seu primeiro romance.
Quando lançar seu primeiro romance (o que só acontecerá se seguir à risca as regras anteriores), dê especial atenção ao título da obra. Usar o nome de um animal e um adjetivo pouco comum pode ser uma solução. Por exemplo: O Pato Santarrão ou Formigas Descalças. Algo extravagante, com algum nome de cidade européia dá também um charme especial, como Havaianas em Berlim ou Pé-de-moleque em Istambul..
Ao lado, algumas sugestões de adereços.
Em breve, mais uma dica para o aspirante a Intelectual Pop.
14- Tenha um distúrbio psiquiátrico.
Hoje em dia todo mundo tem algum transtorno obsessivo-compulsivo, o famoso TOC. É legal contar para os amigos todas as suas manias de organização, limpeza, obsessão por simetria, etc.
Ultimamente a bipolaridade já está desbancando o TOC em matéria de popularidade. Todos querem ser um bipolar (já que maníaco-depressivo é uma expressão meio démodé). Antes já havia sido o Déficit de Atenção, que ainda está em alta entre as crianças. Minha aposta é que a próxima moda seja a esquizofrenia.
Hoje em dia todo mundo tem algum transtorno obsessivo-compulsivo, o famoso TOC. É legal contar para os amigos todas as suas manias de organização, limpeza, obsessão por simetria, etc.
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15-
Ande com livros.
É importante ter sempre um livro debaixo do braço. Não importa qual, provavelmente seu interlocutor não terá lido mesmo e não saberá se presta ou não presta. Se alguém cometer a ousadia de perguntar sobre o que é, pode dizer que é sobre “uma alma angustiada em busca de respostas” ou se insistirem mais diga que “é um retrato poético da condição humana sob o ponto de vista de um sofá”. Claro, faça um esforço e evite O Código da Vinci e O Segredo.
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É importante ter sempre um livro debaixo do braço. Não importa qual, provavelmente seu interlocutor não terá lido mesmo e não saberá se presta ou não presta. Se alguém cometer a ousadia de perguntar sobre o que é, pode dizer que é sobre “uma alma angustiada em busca de respostas” ou se insistirem mais diga que “é um retrato poético da condição humana sob o ponto de vista de um sofá”. Claro, faça um esforço e evite O Código da Vinci e O Segredo.
16- Entenda os filmes do David Lynch.
Claro, não precisa entender realmente, basta dizer que entendeu. Não tema, ninguém vai questioná-lo com profundidade sobre isso, já que ninguém mais entendeu também.
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Claro, não precisa entender realmente, basta dizer que entendeu. Não tema, ninguém vai questioná-lo com profundidade sobre isso, já que ninguém mais entendeu também.
17- Não tenha TV em casa.
Não se preocupe, você pode acompanhar o noticiário pela internet e assistir os filmes do David Lynch no monitor do computador.
Não se preocupe, você pode acompanhar o noticiário pela internet e assistir os filmes do David Lynch no monitor do computador.
18- Tenha uma preferência gastronômica inusitada.
Pode ser feijão com doce de leite, abacaxi com manteiga, coca-cola morna sem gás ou – deuz nos livre e guarde – cerveja quente, sempre cuidando para não resvalar para o perigoso campo da sofisticação. Uma restrição alime
ntícia conta mais pontos ainda. “Não posso comer nada com azeitona!” ou ainda o poético“não como nada que tenha olhos”. Se conseguir abolir a
batata do cardápio já é um herói, pois não há registro na história contemporânea de alguém que tenha alcançado esse feito. Mas lembre-se: não exagere, você quer ser tachado de excêntrico, não de bizarro.
Pode ser feijão com doce de leite, abacaxi com manteiga, coca-cola morna sem gás ou – deuz nos livre e guarde – cerveja quente, sempre cuidando para não resvalar para o perigoso campo da sofisticação. Uma restrição alime
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19- Seja sexualmente ambíguo.
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Não é ambival
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20- Não goste de futebol.
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Nem de qualquer outro esporte coletivo alienador das massas (A não ser que você formule uma elaborada teoria demonstrando que uma partida de futebol é a mais completa metáfora sobre a vida – mas talvez nem isso ajude). Quando escutar, em um rádio ou televisor próximo, o narrador gritando GOOOOOLLL, resista, e não a mude a sua expressão facial e controle seus batimentos cardíacos.. Esporte, para o Intelectual Pop, apenas xadrez, gamão e dominó.
21- Não leia Paulo Coelho.
Quando perguntarem, você diz que nunca leu Paulo Coelho, nem Dan Brown, nem Agatha Christie. São escritores proibidos. Stephen King, estranhamente, está liberado.
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Aqui um ANEXO ao MIP
Excelentes dicas! Vou começar a adotá-las. Muito obrigado! :-D
ResponderExcluirAbração,
Pablo
http://cadeorevisor.wordpress.com