Noite Perdida - Parte 1 (de três)

Já era a terceira vez que ele passava por ali. Andava devagar, para facilitar a sua busca. Olhou para o indicador de gasolina do carro. Ainda tinha alguns quilômetros para percorrer aquelas ruas antes de abastecer. Havia passado quatro meses desde aquele dia inesquecível. O dia que o marcara como um sonho bom do qual não se quer nunca acordar. O dia em que reexplorou as suas potencialidades como homem. Quando o olfato tornava a encontrar a lembrança daquele cheiro inebriante, era como se fosse suavemente transportado a um lugar onde não existe passagem de horas, apenas uma vaga impressão de tempo.

Uma buzina o traz de seu estado confuso-onírico de volta ao mundo. O sinal já abriu e o seu impaciente vizinho de trás fez questão de avisá-lo. Roda mais um pouco, até parar em uma esquina. O que vê faz seu coração acelerar, a respiração fica difícil. Parece que a busca terminou. Não. Quando ela se vira, ele percebe que seus olhos o traíram. Ou será que foi só sua mente que, para satisfazer a sua ânsia desesperada de reviver um momento, o induzira ao julgamento equivocado? Notara, pelas parcas palavras que ela enunciara, que a sua pronúncia denunciava um sotaque alienígena. Teria ela retornado a sua terra natal, encerrando sua missão nestas cercanias?