8 de junho de 2012

Ódios legais (parte 1 de 3)

Um amigo postou o seu "desafio dos 30 dias de ódio" no Facebook. Gostei (leia-se: bateu a inveja má) e resolvi fazer o meu. Mas não tenho a menor paciência para coisas que durem mais de 10 dias seguidos (as únicas atividades nas quais conseguir superar esse recorde foram beber e respirar).

Outro motivo que me leva a postar aqui, onde ninguém me lê, e não no Facebook, é que sei que recrutadores de empresas não contratam pessoas que estejam em "comunidades de ódio". Mesmo que o ódio seja "eu odeio quem odeia". Esses tolinhos (tinha escrito "imbecis", mas troquei na última hora) se esquecem que o ódio em si  não é necessariamente algo negativo. Do mesmo modo que o amor, em si, não é necessariamente positivo. O sujeito pode dizer "Amo colocar fogo em mendigos", "Amo apedrejar homossexuais" ou então o surreal "Amo Paulo Maluf" e nem por isso vai ser bom, assim como quem odeia não é mau só por isso.

Enfim, esse "desafio dos ódios" deve ser um bom exercício filosófico e de autoconhecimento. Recomendo a toda família brasileira.

1- Um ódio que você acha que só você tem.
Pessoas que fazem estalos com a boca. Isso e pessoas que acham que arroz branco pode ser prato principal.

2- Um hábito que você odeia nas outras pessoas.
Me entenda, espalitar os dentes tudo bem. O problema mesmo é fazer a mão em concha pra disfarçar o ato. Já escrevi sobre isso AQUI NESTE LINK.

3- Uma música que você odeia.
Qualquer uma que esteja em primeiro lugar nas paradas e que quando eu comento que não conheço meu interlocutor responde: Claro que tu conhece! Todo mundo conhece. Impossível não conhecer!. E no fim das contas eu não conheço mesmo, e nem quero conhecer.

4- Um ódio gastronômico.
Duas palavras: Fruta. Cristalizada.
Até que um sujeito iluminado inventasse o chocotone, passei a minha infância e parte da adolescência ignorando totalmente o panetone. Por que diabos foram inventar de colocar aquelas malditas frutas dentro?! O cara que criou essa aberração maligna chamada fruta cristalizada deve estar neste exato momento ardendo no sexto círculo do inferno. Se não, deveria estar.

5- Uma citação que você odeia.
Essa é fácil. Aquela do Voltaire. É algo como: "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo."
Voltaire, você é um babaca
É fácil entender  como essa estupidez sem tamanho  conquista todo mundo, e o povo fica achando "que lindo isso", "grande defesa da liberdade de expressão", "exemplo de tolerância, isso que estamos precisando" e bablabla.  Na verdade a frase é enganosa, pois, se tomada como uma verdade absoluta, mascara muito mais coisas ruins do que defende boas.
Um mulher que escuta piadinhas sexuais todos os dias de seus colegas de trabalho. Alguém que tem que ouvir comentários racistas a caminho  da aula. Um jornalista que acaba com a  reputação de alguém por meio de mentiras. Ainda defende até a morte o direito dessas pessoas dizerem o que dizem? Quem sabe eu vou até o portão da casa da sua mãe e fico proferindo xingamentos durante meia hora todos os dias? Tenho certeza que você, democrata exemplar, vai até me emprestar um megafone.

6- Um cheiro que você odeia.
Olha, vou confessar, tenho seriíssimos problemas com vários cheiros.  No livro O Perfume, de Patrick Süskind, o protagonista tem o dom do olfato superdesenvolvido. Isso se chama hiperosmia. Na obra em questão, isso lhe dá grandes poderes e acaba lhe dando a reputação de excelente perfumista. O problema é que, na vida real, a coisa não é tão simples. Acredito que sofro de hiperosmia seletiva, apenas para cheiros ruins. Desde criança, certos cheiros me incomodam a ponto de ter que me retirar de onde eu estiver tamanho o mal estar. Mofo, perfume, produtos de limpeza, comida coreana, cigarro, suor, fumaça de carro, atum, talco, urina de gato, laranja podre e dezenas de outros. Tá, mas peraí, você diz, ninguém gosta desses cheiros mesmo. A questão é que sinto esses cheiros quando ninguém mais está sentindo nada. O odor já começa irritando quando adentra as fossas nasais, depois a laringe se debate, a traqueia se contorce de repulsa, como se me forçassem uma comida ruim (frutas cristalizadas, talvez) goela abaixo, chegando a causar um bloqueio respiratório. Ou esqueça tudo o que eu disse e me chame de fresco.

7- Uma situação em que você odeia estar.
Não gosto de ficar trancado num elevador lotado, com os pés imersos em baldes cheios de sanguessugas, um gambá morto na cabeça, enquanto anões vestidos de lingerie vermelha cantam parabéns a você pra mim. Por mais afinados que sejam, é sempre um constrangimento quando começam a cantar.

8- Uma gíria que você odeia.


Pessoas elegantes indo pra balada
Balada é hors concours. Pela palavra e por tudo o que ela engloba.
Apesar de quase não usar gírias, não tenho nada contra quem usa, a não ser que sejam gírias que façam a pessoa parecer um retardado completo.
Então vou ficar com a gíria do momento, que em seis meses, se deuz quiser, estará esquecida: Partiu!

9- Um sotaque que você odeia.
Eu adoro sotaques. No máximo posso achar algum mais engraçado ou irritante, mas não odeio. Pensando bem, acho que sotaque de soldado alemão falando inglês em filme sobre segunda guerra é bem odiável.

Série muito profunda. Só que não.
10- Um filme que você odeia.
Star Wars. Não que odeie tanto assim. O problema é o mesmo que acontece com Los Hermanos, Freud e Literatura Inglesa feminina do século 19, os fãs é que estragam tudo. Quando criança, assisti O Retorno de Jedi umas 5 vezes no cinema. Foi bem divertido. Eu tinha 9 anos.
Continuar cultuando a série e levá-la a sério como se fosse realmente a representação de uma mitologia complexa e profunda, e não o que ela é, entretenimento fútil para crianças, é, pra dizer o mínimo, um equívoco de vida. Neste excelente artigo em inglês, um rapaz diz tudo o que precisava ser dito sobre o assunto.


Esta foi a primeira parte de um total de 30 ódios.

Parte 2
Parte 3

6 comentários:

  1. HAHAAHAHAHAHAHA!

    Damn you ! As sis and I always commented.. you're a damn good writer !!!!
    Been a long time since I last read your blog.. now I'll have to take it up again.

    BTW.. 'balada' reminds me of our super duper cool dancing club 'Caribe' !!! ;)
    Gotta come back one day so that we can go there with the other Teachers form Hell ! :P

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Cadê o botão de like? Eu tentei fazer esse desafio, não consegui passar do terceiro, acho. Eu não conseguia odiar nada. Não porque eu não odeie. Eu odeio muita coisa. É que tá tudo reprimido, eu mergulho no tanque da depressão... Você acertou sobre a gíria. Passaram-se mais de seis meses e eu não tenho ideia do que seja! E bem sacado o ódio do sotaque dos soldados alemães. Eu não lembraria dele, mas realmente é horroroso! Acho que sotaque de verdade, o paulista ainda é imbatível.

    OBS: Você já percebeu, por acaso, que esse seu papel de parede parece dois glúteos com a cavidade vaginal? Tentando passar mensagens subliminares de submissão feminina? Naughty boy!!!

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  4. Eu não tinha reparado no papel de parede. A intenção consciente da sua escolha era pra parecer decoração de bordel nordestino de luxo em novela da globo. Então não estava tão longe assim da temática sexual. Mas, como dizia Freud, às vezes um charuto é apenas um pênis.

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  5. Mas eu estava errado sobre a gíria "partiu".
    Já se passaram 15 meses e ainda escuto\leio por aí.

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  6. Acho que li muito sobre psicanálise. Desvirtuou minha mente inocente...

    O que é partiu! afinal????

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