28 de setembro de 2010

Escritor (Prólogo)


Quando digo que sou escritor, ninguém acredita. Também pudera, nunca viram meus livros publicados. O que não significa que nunca me leram. Posso explicar essa aparente contradição, mesmo que me doa. Mas é melhor dividir a dor que suportá-la solitariamente, como venho fazendo até agora.

Comecei de baixo, com a poesia, depois passei a escrever posts no twitter e daí fui evoluindo para os minicontos, e mais tarde parti para contos maiores, com enredos bastante pretensiosos, e, quando achava que estava pronto para a vida literária, sentei-me à maquina para datilografar aquele que seria meu primeiro romance. Não apenas isso, mas o romance que marcaria uma nova era na literatura nacional. Mas justo nesse ponto tive um bloqueio de escritor. Simplesmente as palavras não saíam, as idéias ficavam obstruídas, os pensamentos, confusos, meus dedos não faziam mais que alisar as teclas, sem coragem de apertá-las. Confessei minha angústia a um amigo, que se ofereceu para me ajudar. Disse ele que poderia escrever as primeiras páginas, e que depois eu poderia continuar de onde parou, só para ver se o trabalho rendia até eu voltar ao meu estado normal.

Ele escreveu um capítulo, gostei, e tentei seguir adiante. Não deu. Eu ainda não estava pronto. Sugeri que continuasse mais um pouco, o que ele fez com prontidão. E seguiu assim, até digitar “FIM” na última página.

O resto, como dizem, é história: seguiram-se noites de autógrafos, resenhas favoráveis nos principais jornais e revistas do país, e, o melhor de tudo, presença na listas de best-sellers. Foi tudo muito rápido. Nada poderia ter dado mais certo, nada poderia ser mais prazeroso. A não ser pelo fato de que meu “amigo” me deu uma facada pelas costas. Depois de pronto o meu livro, ele levou os originais a uma editora e o apresentou como seu! Sei que é difícil de acreditar, mas não recebi nenhum crédito: é o nome dele que está na capa.

E hoje sou obrigado a ver sua foto no jornal, e ler seu nome citado por colunistas... Amargo a dor de um esquecimento que nunca chegou a acontecer, pois nunca cheguei a ser conhecido. Mas minha vingança virá logo: soube que a editora lhe deu um adiantamento para o próximo livro. Desmascará-lo é apenas questão de tempo. Já antegozo seu inevitável declínio. Como ele vai escrever sem minha indispensável colaboração?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Colaboradores