Moby & Eu

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Sim, a essa altura não dá mais para esconder: Moby e eu temos uma relação de amizade de longa data.

Fui colega do Moby (cujo nome verdadeiro é Ricardo Melville) desde a quinta série do ensino básico até a metade do ensino fundamental.

Ontem Ricardinho (como era conhecido no colégio) esteve aqui na cidade e me convidou para um jantar para recordarmos os velhos tempos. Sim, sim, quantas lembranças.... a temível professora Diocícia, de matemática, cuja acrimônia diante da vida atribuíamos somente ao peso de carregar esse nome absurdo. A peça de teatro de fantoches, que ganhou o primeiro lugar ao fazer sátira com o governo Sarney. O cheiro nauseabundo do refeitório, onde ingeríamos nacos de bolachas água-e-sal empurrados por goles de leite em imundas canecas de plástico apenas para ficarmos mais tempo longe da sala de aula. Lembro que trazia sanduíches que sua mãe fazia, os quais ele nunca comia, pois tinham um horroroso recheio de patê de fígado com quiabo. Acho que isso deve ter contribuído para que se tornasse vegetariano.

Ah, e os primeiros amores... Chegamos a disputar o coração de Ariadne, a enigmática morena de cabelos cacheados, que, para nosso desgosto, nos trocou por Igor, um brutamontes repetente da sétima série.

Um dia, quando ele teve que se mudar com a família para os EUA (seu pai era funcionário da AmWay), nos despedimos com emoção, e fizemos um pacto: "Se algum dia um de nós se tornar famoso e multimilionário, jamais esquecerá o outro e o tratará como lixo." Naquele tempo inocente, mesmo que ele já tivesse lampejos de criatividade, é claro que eu achava que EU é que seria o rico & famoso, não imaginando que Moby ganharia o mundo com sua música anos mais tarde. Mas tudo bem, ele provou sua honestidade.

Picture by: Diego Lopes