Sim, esta é uma estória verdadeira, por isso mesmo está na tag “aconteceu comigo”. Mas, sinceramente, preferia que não tivesse acontecido....
Pego o ônibus por volta das três da tarde. Sento-me à janela, coloco minha mochila no banco ao lado e começo a ler Ética & Animais, livro do surfista-filósofo Carlos Naconecy. Estou entretido com a minha profunda leitura quando um rapaz pede, com aparente pressa, que eu retire minha mochila e ceda o lugar para ele. Tão logo faço a gentileza, volto à minha leitura. Estou na página 55 quando ouço um rouco cochicho:
Pego o ônibus por volta das três da tarde. Sento-me à janela, coloco minha mochila no banco ao lado e começo a ler Ética & Animais, livro do surfista-filósofo Carlos Naconecy. Estou entretido com a minha profunda leitura quando um rapaz pede, com aparente pressa, que eu retire minha mochila e ceda o lugar para ele. Tão logo faço a gentileza, volto à minha leitura. Estou na página 55 quando ouço um rouco cochicho:
- Eu vou te mostrá que eu tô armado. Não fala nada e me passa a tua mochila.
Ele está exigindo demais. Preciso esquecer as sutilezas da diferença entre os conceitos de “ética” e “moral”, que são explicados no livro, e de repente me preparar para um assalto.
Como demoro a entender, ele repete sua apresentação. Continuo calado, olhando para baixo. Ele tem a mão direita enfiada dentro da sua mochila, como se portasse um revólver. Começo a pensar no que há dentro da minha mochila: livros, cd player, estojo de cds, cadernos....putz, são coisas irrecuperáveis ali. E estou prestes a perder tudo em questão de segundos.
- Vamo lá!
Ele já está ficando ansioso.
Ok, penso, vamos lá...Mas peraí, ele disse que ia mostrar que estava armado, e até agora eu não tenho provas disso. Olho para baixo de novo. Ele mantém a mão imóvel dentro da mochila. Pergunto:
- Tá, tu me disse que ia mostrar que tava armado...
- Tô te mostrando! Tá aqui. – Falou num sussurro.
Bom, penso, ele está bem seguro do que faz, deve ter uma arma mesmo. Mas fico pensando: e se não tiver? Eu vou carregar para o resto da vida essa dúvida. Não vou me perdoar se não me certificar disso.
Insisto:
- Mas é que tu disse que ia me mostrar...e não me mostrou...
- Tá, aqui, já te disse! - Ele já fala mais alto, começando a se irritar, ficar nervoso. Não é bom irritar um homem com uma arma.
- Sim, mas me mostra. Tu disse que ia me mostrar.
- Rá! Quer que eu te mostre?! Quer que eu tire daqui pra todo mundo ver?! – Nesse ponto ele já fala alto, quase gritando. Alguns passageiros percebem o que acontece, e se levantam dos lugares próximos, me deixando sozinho com meu assaltante. Continuo:
- Sim, me mostra....de cantinho...
- “De cantinho”?! “De cantinho”?! Rá! Ele quer que eu mostre “de cantinho”.
- É....
Alguns segundos de silêncio se passam.
Ele finalmente fala:
- Vamo vê o que tem na mochila.
- Olha, só tem meus cadernos...
- Mas vê algum dinheiro aí.
- Bom, tenho uma niqueleira, mas olha só, só tem moedas...
- Pode ser! Passa as moeda!
- Mas...é só moeda...Posso te dar uma fichinha de ônibus.
- Pode ser!
Dou uma fichinha escolar, que ele pega.
- Ah, mas essa eu não posso usar, eu não tenho carteirinha.
Eu tenho ainda um vale-transporte.
- Hmm, tenho essa aqui então. - Me devolve a ficha escolar e pega o vale.
Ficamos em silêncio de novo por mais alguns segundos. Até que fala:
- Hmm, pra onde é que vai esse ônibus?
- Agora ele cruza a João Pessoa, depois vai pelo Bom Fim.
- Bom, então vou descer na próxima.
Levanta-se, vira-se pra mim, estende-me a mão e faz um cumprimento esquisito (o qual imito), dizendo:
- Valeu aí, falou...
Ele desce, eu retomo o livro e sigo meu destino.
Moral da história: quando for assaltado, reaja. Com ceticismo.
Algo assim, nem tão assim, aconteceu comigo. Ponto de ônibus, o ladrão e eu.
ResponderExcluirO ladrão: Passa o dinheiro !
eu ( sem compreender nada e achando que era um pedinte) : ô moço ( cara de pena agora), não tenho não!
e o ladrão: não tô pedindo, tô mandando, passa logo...
aí eu entendi né e nem preciso terminar...