
- Tu quer tomar um vinho?
Decerto pensou que eu a surpreenderia com um galante convite para um jantar romântico em um restaurante chique, e respondeu:
- Claro!
- Então vem comigo, disse eu.
Fui até o caixa e pedi o livro que estava sendo autografado. Era Desculpem, sou novo aqui, de Carlos Moraes. Subimos até o segundo andar e ficamos por ali zanzando com o livro na mão. Não havia propriamente uma fila, apenas pessoas espalhadas e algumas em volta da mesa do escritor. Logo o garçom apareceu e tomamos a primeira taça. Depois a segunda. E uma terceira, que ele forneceu muito a contragosto, ao reconhecer os ratos de sessão de autógrafos. Ela me disse:
- Tá, já deu, vamos embora. Daqui a pouco vão começar a nos olhar.
Eu, querendo aproveitar mais da situação, disse:
- Só mais uma taça.
Nisso, aparece um senhor ao nosso lado e pergunta:
- Já pegaram o autógrafo com o autor?
- Não, respondi.
- Então venham cá, vou apresentar vocês, disse ele.
Carlos Moraes nos recebeu entusiasmado.
- Nossa, só tem amigos meus aqui. É bom ver que também há leitores interessados. E leitores jovens, o que é melhor!
- Pois é, disse eu já prevendo onde aquilo iria terminar.
- Como é que ficaram sabendo do livro, dos autógrafos?
- Ahnn, eu vi no jornal hoje, menti eu.
E ele começou a falar sobre o livro dele, que era ex-padre, que tinha escrito suas memórias misturando com ficção (toda memória é ficção, pensei eu), e começou a contar um pouco do livro . Enquanto isso, minha namorada me lançava olhares nervosos, do tipo "O que tu pensa que está fazendo?". Lá pelas tantas o escritor se interrompeu, como se lembrasse de algo importante, e disse:
- Vocês ainda não pegaram o autógrafo!
- Pois é, disse eu sorrindo.
- Qual o nome de vocês?
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Claudius, que inspirou meu pseudônimo |
Dando continuidade à farsa, menti de novo com o primeiro nome que me veio à cabeça:
- Cláudio.
- E você?, perguntou ele pra ela, que entrou no jogo rapidamente, também dando outro nome:
- Marisa.
Ele começou a escrever a nossa dedicatória, e parou de novo:
- Marisa com S ou com Z?, seguiu-se um momento de hesitação, até que ela:
- Com S!, e me olhou já furiosa.
- Vou deixar também o meu email com vocês, e por favor me escrevam pra dizer o que acharam, é sempre bom ter um retorno dos leitores, disse Carlos.
- Claro!, falei.
Carlos Moraes nos entregou o livro e na hora apareceu outra pessoa para falar com ele e aproveitamos para nos despedir. Descemos e li a dedicatória:
"Um grande abraço para os simpáticos leitores Cláudio e Marisa
do Carlos Moraes".
Perambulei com o livro até uma estante qualquer e o enfiei entre outros. Nos retiramos da livraria em silêncio.
Naquela mesma noite, ainda fomos expulsos, por minha culpa, é claro, da inauguração de uma loja de aromacolorterapia, mas isso é uma outra história...
Caludius, comprei este livro. Estando em situação de pedir desculpas por ser nova lá, sonhei com o fato de o livro ter sido indicado para mim e, mais, dedicado a mim. Um abraço. Mariza.
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