22 de dezembro de 2009

Voltaire ataca novamente!

Deu na Band News:

Homem é agredido com golpes de taco de golfe na Livraria Cultura

Um cliente da livraria Cultura foi agredido com golpes de taco de golfe na cabeça por outro cliente. Segundo a Polícia Militar, a agressão aconteceu nesta segunda-feira à tarde na loja do Conjunto Nacional, na avenida Paulista. Segundo a assessoria de imprensa do estabelecimento, os dois clientes discutiram na sessão de livros de artes, e um deles golpeou o outro, um jovem de 21 anos, com um taco de golfe. A vítima foi levada ao Hospital das Clínicas com um ferimento na cabeça e o agressor foi encaminhado ao 78º Distrito Policial, no bairro do Jardins.


Segundo uma testemunha que não quis se identificar, Voltaire abordou um jovem que tinha em mãos um livro do Marcel Duchamp. A testemunha transcreveu a conversa:

Voltaire: (com um sorrisinho debochado) Hmm, então és chegado num urinol?
Rapaz: (surpreso) Como? Ah, o Duchamp? Ele foi revolucionário. Ainda é.
Voltaire: (ficando com o rosto vermelho) Revolucionário? Ele era um farsante! Conseguiu enganar uma geração inteira. Colocou um pneu de bicicleta num banquinho e chamou de arte. E ai de quem não entendesse.
Rapaz: Desculpe, senhor, mas devo dizer que discordo da sua opinião. O que Duchamp fez foi ir contra a ordem estabelecida, o status quo, o esprit du temps, o zeitgeist.
Voltaire: Ele pintou um bigode na La Gioconda! Um bigode! Sabes o que é isso? É cuspir em toda história da arte clássica, é debochar dos gregos, é colocar os renascentistas na lata de lixo. Duchamp era um moleque, um moleque! Se hoje vivemos este calvário, submissos ao discurso dos supostos artistas contemporâneos, é por culpa dele!
Rapaz: O que Duchamp fez, nesse caso e em muitos outros com seus ready-made, foi estabelecer uma conjuminação de elementos antagônicos, traduzindo-os em uma tensão permanente.
São elementos inarticulados ocultos em detalhes de aparente insignificância, que, no entanto, são passíveis de percepção pelo inconsciente. Resume-se claramente numa atividade criativa que não se conduz nos limites dos padrões dominantes, o que é justificado pela incapacidade do conformismo e pela recusa de normas e padrões, legitimando, desse modo, uma expressão crítica e autêntica.
Voltaire: Vês só? Já estás contaminado com esse pensamentozinho intelectualoide. Só podes ser daquele tipinho que frequenta galerias com cara de entendido e acha que tudo na arte é válido. Conheces o caso daquele italiano que vendeu fezes? Um vidro com fezes! Se isso é arte eu sou um grande artista matinal.
Rapaz: Mas Duchamp era, acima de tudo, um provocador.
Voltaire: Sim, um grande provocador mesmo. Ele me provoca náuseas, provoca os limites do bom gosto estético.
Rapaz: Mas qual seria a função da arte para o senhor, afinal?
Voltaire: Isso qualquer criança de 5 anos sabe. Arte é a valorização do sublime, do belo, quanto pior o mundo, mais precisamos dos artistas. Mas não desses que aí estão, amarrando cãezinhos famintos e empalhando porcos.
Rapaz: Desculpe-me por apontar isso, mas a sua visão é um tanto quanto conservadora, não?
Voltaire: Rá, agora vais começar a me acusar de conservador! Já me chamaram de nazista, de fascista, de ignorante,
agora, para completar, só falta me chamarem de homossexual! Vamos, me chama de homossexual, afinal não faltam adjetivos deploráveis na boca dos meus perseguidores. Além disso, saibas que o povo está comigo e...
Rapaz: (interrompendo) Senhor, respeito a sua opinião, mas creio que não chegaremos a um consenso razoável. O senhor está se exaltando. Além do que, Duchamp não vale toda essa discussão. Preferia estar debatendo meu artista favorito, sobre o qual, inclusive, estou escrevendo minha tese de Mestrado.
Voltaire: Ah é?! E quem seria esse "artista"?
Rapaz: (orgulhoso) Andy Warhol.

Segundo a testemunha, foi nesse ponto da conversa que Voltaire pegou enfurecido o taco de golfe e começou a bater na cabeça do rapaz.


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